domingo, 12 de abril de 2015

O PÃO DE SÃO ROQUE

TRIBUNA DA BAHIA
QUINTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2004
Sr. Redator:
Anos a fio, peregrinos deslocam-se a longas distâncias a fazer penitências a seus devotados santos, sejam eles, o Bom Jesus da Lapa, (Sul da Bahia): Nossa Senhora de Lourdes, (em Lourdes-Portugal), ou tão amado São Roque, de São Roque do Paraguaçu e Nazaré das Farinhas, no Recôncavo baiano. Locais bem conhecidos de todos. Na verdade as manifestações religiosas são de grande importância para seus crentes, não só pelo pagamento de promessas, como pela pompa das missas festivas, com a participação de Liras, que enriquecem os festejos com suas peças musicais sacro-populares, acompanhando o cortejo pelas ruas das cidades. Não foi o que aconteceu, por exemplo, na última segunda-feira, 16 de agosto, quando se comemora o Dia de São Roque em Nazaré. Com pouquíssimas pessoas a participar da procissão da tarde, sentidas as ausências das Liras do Clemente Caldas e Eratho Nazarena, uma pena. Aliás este ano, até os pequeninos pães antes fartamente distribuídos aos peregrinos, (rareou), que, em sua maioria retornavamàs suas casas de mãos vazias, sem o pão diminuto que segundo acreditam, se colocado na farinheira, não faltará farinha naquela casa por todo o ano. Ainda bem que eu trouxe o meu, disse Helita Martins, nazarena, professora soteropolitana aposentada de 83 anos, que ali comparece todos os anos.
 OS PEREGRINOS
 Em Ferradas, (onde em 1914 nasceu o escritor Jorge Amado), nos tempos mais remotos o padre somente comparecia, no máximo duas vezes por ano, em ocasiões especiais, como no mês de maio, para as novenas de Nossa Senhora e quando eram feitos os batizados e casamentos, (hoje tem missas semanais), ficávamos nós crianças, a olhar a passar por nossa vila dezenas de peregrinos, pessoas estranhas, com largos chapéus de palha a cobrirem as cabeças, alguns com suas tralhas sobre animais (jegues, burros), a seguirem a pés pelas poeirentas estradas e trilhas, rumo a cidade de Bom Jesus da Lapa, com grandes cabaças com água e esteiras enroladas sob o ombos, para servir de anteparos para as dormidas nas rancharías (se houvessem) no trajeto. Esse quadro mudou, com a chegada dos caminhões paus-de-arara e, posteriormente as marinetes/ônibus, que passaram a levar grandes levas de peregrinos para a gruta do Bom Jesus da Lapa.

Egnaldo Araújo

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