sexta-feira, 10 de abril de 2015

O JEGUE PEGADOR

Ela veio quase fugida de Barro Preto, onde a molecada não a deixava em paz com apupos e até apedrejamento ao telhado do seu humilde barraco. Escolhera a Vila de Ferradas, próxima à Itapé (ex-Barro Preto), por ouvir dizer que a vila era muito acolhedora com os forasteiros que por ali se fixassem e, ela assim o fez. Logo que ali chegou recebeu ajuda para a construção de uma nova moradia à beira do Rio Cachoeira, ainda com suas águas límpidas e com muitos peixes e camarões que se podia pescar com gererés e defender a comida do dia. Além do mais dentre a vizinhança, dentre outras pessoas bondosas, havia dona Betinha, filha do dono da farmácia que, muito caridosa ia quase que diariamente ao barraco de dona Santinha levar um pouco de comida, agasalhos e até alguns remédios obtidos com o pai, seo Zinho Sodré. Pois bem, tudo ia bem até que um dia ao chegar ao barraco para visitar dona Santinha, sua protetora a encontrou toda amarfanhada, com os olhos arregalados, ofegante e com os cabelos assanhados.
Assustada com aquela cena, dona Betinha perguntou o que ali houvera acontecido no que ela passou a contar a seguinte história: - Olha yayá dona senhora, era de noitão, tava tudo escuro quando, após arrombar, entrou pela minha porta a dentro um jegão enorme que passou a ficar em cima de!eu que passei a gritar, sai de cima de eu, seu desgraçado infeliz, sai, socorro, socorro, mais ninguém me caudia. Entonce depois de lutar muito com aquele jegão, eu consegui ver que ele tinha uma tira grande de estraratrapo pela cintura e os pés todos dois brancos. Entonce minha fia, eu quase morri com aquele monstro, com uma gereba enorme a me cutucar todinha, todinha. Foi então que a dona Betinha muito admirada falou para a dona Santinha, que há muito tempo não havia mais jegues vagando por ferradas, pois pegaram todos e venderam para fazer carne de charqueada em Governador Valadares. Dona Santinha então arrematou: Não é desse jegue de quatro patas que eu tou falando não, tou falando é os de duas pernas, altão e fortão, com um bafo de cachaça dos infernos.
. Foi então que dona Betinha no dia seguinte saiu a investigar que figura era aquela que usava uma grande faixa de esparadrapo na base da cintura e tinha dois pés brancos e descobriu que nada mais, nada menos o tal jegão era um sujeito que trabalhava no matadouro de ferradas por nome Armandão, com quase dois metros de altura, usava uma faca com um grande cabo branco na cintura e calçava botas brancas para trabalhar
no abatedouro da Vila.
Nem precisa dizer que dona Santinha após aquele sufoco, arrumou a sua trouxa com seus cacarecos e sumiu de Ferradas, para nunca mais voltar.


Egnaldo Araújo

Nenhum comentário:

Postar um comentário