domingo, 12 de abril de 2015

O CINEMA EM FERRADAS

TRIBUNA DA BAHIA
QUARTA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2004
Sr. Redator:
Algumas informações divulgadas pelos jornais alertam para o aumento da incidência de Tuberculose no Estado da Bahia, a Tísica como era mais conhecida em tempos remotos ceifou a vida de muitas personalidades brasileiras, dentre elas o poeta Augusto dos Anjos e tantas outras figuras de nossa história.
Pois bem, anos passados não foram poucas as vítimas da doença, como da varíola, febre amarela e outras, em Itabuna e municípios circunvizinhos, assim como na vila de Ferradas, - distrito de Itabuna - (hoje um dos bairros populares grapiúna), localidades que já fizeram parte do município de Ilhéus.
Aliás, se dependesse da alimentação farta das jacas de Itabuna e dos mariscos e pescados de Ilhéus, a doença ali jamais apareceria. Contudo até isso foi rareando, devido à transformação dos cacau-ais em pastagens e aterramento dos manguezais para a construção de moradias.
Como maioria das localidades, a Vila de Ferradas em tempos passados não possuía luz elétrica, médico, meio de transporte reqular e muito menos recursos ambulatoriais, onde os curativos em pequenos cortes de facões, foices, podões e picadas de bichos eram feitos pelo próprio dono da pequena farmácia local, seo Zinho Sodré; contava ainda com uma experiente parteira que, por muitos e muitos anos "aparou" muitos bebês de famílias ricas e pobres da região. Situação que só veio a melhorar há cerca de 40 anos, com a construção da nova estrada asfaltada ligando Ibicarai e Itapé à Itabuna.
O CINEMA
Sem energia elétrica com as ruas somente iluminadas quando era lua cheia, a vidinha corria tranqüila, até o dia em que apareceu na vila, uma turma totalmente desconhecida composta por homens barbudos, que desembarcaram de um jipe e foram direto para a casa do dono do Cartório, o seo Pedrinho e ali entabularam uma conversação na sala de visitas, acompanhada de café com bolo de puba, feito especialmente pela dona da casa, aliás, muito apreciado na região.
Conversa daqui, conversa dali e logo, logo embarcaram de volta naquele velho calhambeque e sumiram na estrada poeirenta.
Oito dias depois estavam de volta na carroceria de um caminhão Studabaker queixo duro, de onde desembarcaram um grande tralha, que depositaram no armazém de compra de cacau de seo Arlindo.
Após se acomodarem na pensão de dona Zozó, eles começaram a construir uma nova casa de tijolos num terreno ao lado da capela de Nossa Senhora, o que veio a, saber - se depois que era o cenário para uma das cenas do filme Terra Violenta, que contava a história da ocupação daquelas terras por várias ge­rações, desde portugueses até seus sucessores sergipanos para trabalharem na derrubada das matas para o plantio e colheita do cacau.
Até hoje não se sabe o destino do tal filme que teve a participação de atores, moradores e até um bando de ciganos que estavam à época acampado nas pro­ximidades e que entrava atiçando seus cavalos a toda a velocidade pela vila atirando suas balas de festins por todos os lados e assombrando os nativos, que ficavam de olhos esbulhados com tudo aquilo.


Egnaldo Araújo

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