domingo, 12 de abril de 2015

HISTÓRIAS DO SUL DA BAHIA XIV

TRIBUNA DA BAHIA
QUARTA-FEIRA, 28 DE JULHO DE 2004
Sr. Redator:
Quem se utiliza diariamente dos transportes urbanos e interurbanos de nossas cidades vem constatando uma dura realidade, os preços das passagens são proibidas, além de constatar-se a baixa qualidade dos veículos, são raros aqueles que oferecem conforto e alta qualidade em comparação aos preços pagos. Por outro lado, com as chuvas, pistas urbanas e rodovias apresentam-se em péssimo estado para trânsito de veículos leves e pesados. A renovação das frotas de ônibus é um dever do empresariado dos transportes, que igualmente deve cobrar dó poder público (Prefeituras e Ministério dos Transportes) melhores estradas para circulação de seus veículos.
Em Ferradas (onde nos idos de 1914 nasceu o escritor Jorge Amado) o transporte, em tempos idos era feito por tropas de burros e montarias, que varavam a região (e esse Brasil afora) transportando todo o tipo de mercadorias, que constava cada tropa, com cerca de 6,8 até 10 ou mais animais. A tropa puxada pela sua madrinha (o primeiro animal da fila todo enfeitado), que dava o ritmo da marcha. O tropeiro, como era conhecido era o comandante daquelas operações, era ele que nas paradas (rancharias, espécies de grandes vãos coberto por telhas), que descarregava os animais para o pernoite e os carregavam na madrugada seguinte para reinicio da viagem. Sempre que acontecia algum acidente, como o de um animal ficar preso em um atoleiro, ou mesmo em decorrência, quebrar uma perna ou coisas parecida era ele quem tinha que to­mar todas as providências.
Pois bem, a nossa história começa lá pelo alto da Piabanha, muito acima do Grebe (até que poderia chamar-se gebe-gebe), devido à grande distância que separava a fazenda Dois Irmãos, onde viviam o velho Manezinho e seus dois filhos, um de 14 anos, outro de 8 anos. Tudo a correr bem, naquelas bandas, onde a colheita naquela safra tinha sido muito boa e forma barcaças e mais barcaças de cacau a secar. O depósito está cheinho de sacas e mais sacas de cacau, prontos para serem transportados para os armazéns de Itabuna e Ilhéus. Seo-Manezinho, o administrador da fazenda ordenou aos trabalhadores que preparassem a tropa de burros cerca de oito, para levar o cacau para a cidade, logo no outro dia cedo, um sábado, dia de feira e de muita gente pelas estradas. Não se sabe por que os meninos disseram ao velho que tinham que que ir junto pra cidade, alegando da "necessidade" de comprar algumas coisas para a despensa como carne seca, sal, e algumas outras coisas de necessidade, como botas, podões e facões, mas na verdade a intenção era outra. No que foi aceita a sugestão, contanto que os mesmos ajudassem na viagem, em torno de 12 léguas, uma distância razoável e até muito puxada para se fazer o percurso a pé. Mas na verdade, o que eles queriam mesmo com a maior paixão era o de ir caminhar pela feira de Itabuna, ver a chegada do trem carregado de mercadorias do porto de Ilhéus, ouvir o seu inconfundível apito piiuuuuiiiiiii, piiuuuuuuiiiii, era maior do que qualquer dificuldade. Além das deliciosas guloseimas que ficariam a comer e, com seus ávidos olhos de meninos da roça ficarem a observar a chegada das primeiras marinetes, à cidade, cobertas de poeira das estradas de barro e lamacentas da região, desembarcando aquela gente toda, vestidas com esquisitas roupas da cidade.

Egnaldo Araújo

Egval@terra.com.br

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