TRIBUNA DA BAHIA
QUINTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2004
Sr. Redator:
Anos a fio, peregrinos deslocam-se a longas distâncias a fazer
penitências a seus devotados santos, sejam eles, o Bom Jesus da Lapa, (Sul da
Bahia): Nossa Senhora de Lourdes, (em Lourdes-Portugal), ou tão amado São
Roque, de São Roque do Paraguaçu e Nazaré das Farinhas, no Recôncavo baiano.
Locais bem conhecidos de todos. Na verdade as manifestações religiosas são de
grande importância para seus crentes, não só pelo pagamento de promessas, como
pela pompa das missas festivas, com a participação de Liras, que enriquecem os
festejos com suas peças musicais sacro-populares, acompanhando o cortejo pelas
ruas das cidades. Não foi o que aconteceu, por exemplo, na última segunda-feira,
16 de agosto, quando se comemora o Dia de São Roque em Nazaré. Com pouquíssimas
pessoas a participar da procissão da tarde, sentidas as ausências das Liras do
Clemente Caldas e Eratho Nazarena, uma pena. Aliás este ano, até os
pequeninos pães antes fartamente distribuídos aos peregrinos, (rareou), que, em
sua maioria retornavamàs suas casas de mãos vazias, sem o pão diminuto que
segundo acreditam, se colocado na farinheira, não faltará farinha
naquela casa por todo o ano. Ainda bem que eu trouxe o meu, disse Helita
Martins, nazarena, professora soteropolitana aposentada de 83 anos, que ali
comparece todos os anos.
OS PEREGRINOS
Em Ferradas,
(onde em 1914 nasceu o escritor Jorge Amado), nos tempos mais remotos o padre
somente comparecia, no máximo duas vezes por ano, em ocasiões especiais, como
no mês de maio, para as novenas de Nossa Senhora e quando eram feitos os
batizados e casamentos, (hoje tem missas semanais), ficávamos nós crianças, a
olhar a passar por nossa vila dezenas de peregrinos, pessoas estranhas, com
largos chapéus de palha a cobrirem as cabeças, alguns com suas tralhas sobre
animais (jegues, burros), a seguirem a pés pelas poeirentas estradas e trilhas,
rumo a cidade de Bom Jesus da Lapa, com grandes cabaças com água e esteiras
enroladas sob o ombos, para servir de anteparos para
as dormidas nas rancharías (se houvessem) no trajeto. Esse quadro mudou, com a
chegada dos caminhões paus-de-arara e, posteriormente as marinetes/ônibus, que
passaram a levar grandes levas de peregrinos para a gruta do Bom Jesus da Lapa.
Egnaldo Araújo
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