TRIBUNA DA BAHIA
QUARTA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2004
Sr.
Redator:
Algumas informações divulgadas pelos jornais alertam para o aumento da
incidência de Tuberculose no Estado da Bahia, a Tísica como era mais conhecida
em tempos remotos ceifou a vida de muitas personalidades brasileiras, dentre
elas o poeta Augusto dos Anjos e tantas outras figuras de nossa história.
Pois bem, anos passados não foram poucas as vítimas da doença, como da
varíola, febre amarela e outras, em Itabuna e municípios circunvizinhos, assim como na vila de Ferradas, - distrito de Itabuna - (hoje um dos
bairros populares grapiúna), localidades que já fizeram parte do município de
Ilhéus.
Aliás, se dependesse da alimentação farta das jacas de Itabuna e dos mariscos e pescados
de Ilhéus, a doença ali jamais apareceria. Contudo até isso foi rareando,
devido à transformação dos cacau-ais em pastagens e aterramento dos manguezais
para a construção de moradias.
Como maioria das localidades, a Vila de Ferradas em tempos passados não
possuía luz elétrica, médico, meio de transporte reqular e muito menos recursos
ambulatoriais, onde os curativos em pequenos cortes de facões, foices, podões e picadas de bichos
eram feitos pelo próprio dono da pequena farmácia local, seo Zinho Sodré;
contava ainda com uma experiente parteira que, por muitos e muitos anos
"aparou" muitos bebês de famílias ricas e pobres da região. Situação
que só veio a melhorar há cerca de 40 anos, com a construção da nova estrada
asfaltada ligando Ibicarai e Itapé à Itabuna.
O CINEMA
Sem energia elétrica com as ruas somente iluminadas quando era lua
cheia, a vidinha corria tranqüila, até o dia em que apareceu na vila, uma turma
totalmente desconhecida composta por homens barbudos, que desembarcaram de um
jipe e foram direto para a casa do dono do Cartório, o seo Pedrinho e ali entabularam uma conversação na
sala de visitas, acompanhada de café com bolo de puba, feito especialmente pela
dona da casa, aliás, muito apreciado na região.
Conversa daqui, conversa dali e logo, logo embarcaram de volta naquele
velho calhambeque e sumiram na estrada poeirenta.
Oito dias depois estavam de volta na carroceria de um caminhão Studabaker queixo duro, de
onde desembarcaram um grande tralha, que depositaram no armazém de compra de
cacau de seo Arlindo.
Após se acomodarem na pensão de dona Zozó, eles começaram a
construir uma nova casa de tijolos num terreno ao lado da capela de Nossa
Senhora, o que veio a, saber - se depois que era o cenário para uma das cenas
do filme Terra Violenta, que contava a história da ocupação daquelas terras por
várias gerações, desde portugueses até seus sucessores sergipanos para
trabalharem na derrubada das matas para o plantio e colheita do cacau.
Até hoje não se sabe o destino do tal filme que teve a participação de
atores, moradores e até um bando de ciganos que estavam à época acampado nas
proximidades e que entrava atiçando seus cavalos a toda a velocidade pela vila
atirando suas balas de festins por todos os lados e assombrando os nativos, que
ficavam de olhos esbulhados com tudo aquilo.
Egnaldo Araújo
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