TRIBUNA DA BAHIA
SEGUNDA-FEIRA, 28
DE JUNHO DE 2004
Sr. Redator:
Sr. Redator:
A vila de Ferradas, hoje um
bairro bem movimentado, localizada entre as cidades de Itabuna
e Itapé,
continua sendo um referencial histórico para a região do Sul da Bahia, ali em
1912 nasceu o escritor Jorge Amado, cronista da região cacaueira,
internacionalmente conhecido.
Constituída basicamente de uma
só rua (Ferradas Nova e Velha de casas simples) comprida, vale ressaltar os
usos e costumes (bonitos e feios) dos habitantes, relembrando dentre outros,
seus cantos de colheita e quebra do cacau, as grandes tropas de burros a
conduzir sacas e mais sacas dos grãos para os armazéns de compra do produto
localizados em Itabuna e regiões próximas ao porto de
Ilhéus, destino final das super valorizadas amêndoas douradas, que navios
cargueiros transportavam para o exterior. Atualmente chega-se ao cúmulo de
importar-se o produto de outros países produtores, para tocar a indústria chocolateira
local.
Pois bem, a nossa história
aconteceu há muitos anos quando a região produzia e exportava com plenitude o
cacau, gerando riqueza para alguns e situações de carência para outros,
principalmente aqueles que trabalhavam na limpeza das roças de cacau, colheita,
secagem e transporte do produto para os compradores.
Tempos bons aqueles em que a
palavra dada era sinônimo de fiel cumprimento, nada de voltar-se atrás. Mesmo
assim o dono de roças que não tomasse suas preocupações, perdia seus bens num
abrir e fechar d’olhos.
Foi o caso de velho Manelão
Simplício, que começou a tomar dinheiro adiantado para pagar com a colheita do
cacau. Para tanto teria que assinar uma letra (Nota Promissória) para o Juca
Barreto,
um esperto comprador de cacau e, nas horas vagas, agiota muito ladino.
Tudo ia bem, até o dia em que
Manelão morreu picado por uma casvavel, não se sabe de onde aparecera
de debaixo de uma folhagem quando ele, manejava o podão
para
colher os frutos maduros, pisou sobre a bicha e, ela de imediato picou-lhe
certeiramente. Foi uma picada só e, não houve chumaços
e mais chumaços
de
querozene sobre a picada para impedir que ele fosse para o beleléu. Foi aquele
chororó da viúva dona Adélia e seus quatro filhos.
Passaram-se os dias e Apolinário,
empregado
de confiança, além de suas atividades de cuidar da tropa de burros, dos
trabalhadores da podagem e secagem, passou também acertar as contas do finado.
Num sábado, dia de feira foi
até o escritório do Juca Barreto, saber das contas do
finado.
Ali chegando ficou sabendo da
existência de uma grande dívida de Manelão, cidadão que ele mesmo conhecia,
cumpridor fiel de seus compromissos e por isso duvidava de tal dívida de mais
de dez contos de reis, uma fortuna.
Voltou pra fazenda e contou
toda a história para a viúva que também ficou a matutar sobre aquilo e, não
teve jeito. Teve que vender a roça para pagar o débito e foi viver de favor na
casa de um compadre, que se condoeu da sua situação.
Na verdade Manelão não devia
um centavo ao tal agiota. O que acontecia era que todas as vezes que ele saldava
uma dívida, o sabidório pegava a letra quitada,
amassava-a e jogava-a dentro do lixo, dizendo: - Está tudo certo, compadre.
Quando precisar, é só me
procurar. E quando Manelão deixava o recinto, mais que depressa pegava a Nota
Promissória de volta e, ao chegar em casa, usando de um ferro de passar roupa
estirava-a bem, para ficar como nova em folha.
E assim ele foi colecionando
notas e mais notas promissórias, até o dia em que o tomador de empréstimos
morreu e, de imediato o ladino Juca apresentou a conta à viúva.
Essa é a mais uma História do
Sul da Bahia.
Egnaldo Araújo
Egval@terra.com.br
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