A MARINETE
Quando aquela marinete com motor barulhento Studebeiker, toda coberta de poeira e lama parou na Estação Rodoviária da cidade do interior, lá estava um seu vaqueiro com um animal selado, preparado a esperar o filho do patrão. Começam a descer aquelas pessoas com roupas todas amassadas da viagem, rostos cansados e, lá ao final eis que surge aquele rapaz com camisa florida, calças extremamente justas e um sacolão tipo bolsa debaixo do braço, a olhar sob seus enormes óculos escuros por todos os lados, até que se encontrou com seu emissário que se apresentou: “Boa tarde”! Eu sou Manezinho, trabalhador do senhor seu pai, o coronel Damião Pereira das Pederneiras D’angola, e vim aqui, para levar o sinhozinho até a roça, trouxe até esse animal selado e outro com os caçuás para levar a sua bagagem, e, ato seguido, foi tentar pegar o sacolão, no que foi contido delicadamente pelo rapaz, que começou a olhar o animal com aquela lindíssima sela, ornada com acabamentos em prata, brida com iguais requintes, capa colonial dobrada e amarrada no respaldar da sela e tudo o mais. Ao terminar a inspeção perguntou, não tem aquela sela em que se senta de lado?
Ao chegarem à Fazenda Bom Viver, Coronel estava na varanda da Casa Grande e foi ver de perto a chegada do tão esperado filho. Não foi a surpresa ao se deparar com aquela cena do rapaz vestido com aquelas roupas femininas, e, ato seguinte se recolheu a seus aposentos onde deu ordens para ninguém incomoda-lo a não ser para se alimentar. Não mais queria ter contatos com aquela figura extravagante que, definitivamente jamais fora seu filho. E deve ter ficado a pensar várias vezes sobre a questão:
MAS ONDE FOI QUE EU ERREI?
Até parece redundância a fala conclusiva de um dos personagens do Viva O Gordo, um dos programas humorísticos de grande audiência na TV havia um quadro em que aquele pai, orgulhoso da masculinidade do filho, fazia o maior lobby, melhor dizendo a maior propaganda de seu rebento junto àquelas lindíssimas mulheres, mas, quando o referido propagado chegava ao recinto, se manifestava totalmente avesso às mulheres, apesar dos homéricos esforços do pai para motiva-lo, que ao final, desencantado com a perda de tempo dizia contrafeito: “Mas onde foi que eu errei”?
Egnaldo Araújo - DRT – 4230 – DF.
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