terça-feira, 2 de junho de 2015

CABELO E BARBA


GENTE:
Os preços de salões de barbeiro e de beleza estão pra lá de Bagdá - Se voc quizer um corte cinco estrelas,se prepare para sacar 80 reais num desses salões de shoppings centers. Cabelo e unhas femininos então nem se fala. 
O motivo desse entroit é  passar uma história real ouvida por barbeiro eficiente e bom ouvinte:
E lá estava ele sentado na cadeira do barbeiro quase a dormitar com o chap, chap da tesoura a trabalhar (aparar) os seus já escassos cabelos prateados. Aos 69 anos, em rápidos lampejos passou a relembrar a sua vida de menino pobre oriundo do interior do Estado para morar em casa de parentes na Capital, repleta daqueles monstrengos barulhentos e "perigosos", chamados bondes. Foram anos e mais anos de trabalho duro para chegar aonde chegou, com família constituída, filhos criados, formados, empregados, e netos ainda a chegarem.
O APRENDIZADO
Aos oito anos além de frequentar pela manhã a escola primária daquele bairro do Centro Histórico de Salvador; à tarde era aprendiz de sapateiro, diariamente a subir e a descer a ladeira do Taboão a comprar sola, saltos, cola e tudo o quanto era aviamentos para a sua nova escola (humilde sapataria, oficina de consertos de sapatos) localizada num beco escuro de uma velha casa da Praça da Quitandinha do Capim.
Atividade lhe imposta para não deixá-lo ficar atoa, a para quedar (pongar) em bondes e ficar a jogar ferrinho com a molecada no largo de Santo Antônio, (segundo a tia dele, dona Maria Sodré, dona de um pensionato na casa de no. 169 da Rua Direita de Santo Antônio, onde morava de favor,): Jogo no qual se perdia a noção do tempo tendo-se que cercar o triangulo riscado no chão do opositor, impedindo-o de dali sair.
 Opção: Coloca-lo com aprendiz de sapateiro com o velho Silvério, que, ao lado de um experimentado auxiliar tocava o serviço advindo dos moradores das redondezas; geralmente moradores da Rua dos Carvões, Direita de Santo Antônio, Rua dos Ossos, São José de Cima e São José de Baixo; com fregueses até do bairro da Liberdade e da Lapinha.
Já rapazinho, numa dessas andanças pelo então movimentado comércio da ladeira do Taboão recebeu convite para trabalhar como espécie de vendedor de porta de loja de tecidos, com o compromisso de, diariamente ir buscar a marmita do almoço dos donos, um casal libanês.
A FOME
Para defender o almoço e alguns trocados, ali permaneceu até obter um emprego de office-boy Comércio, em uma companhia americana, a Dun & Bradstreet, de informações cadastrais, onde, de limpador do escritório passou a funcionário de carteira e, como exímio datilógrafo passa a seguir a trabalhar em bancos locais, como Correia Ribeiro, Nacional de Minas, Banorte e Banco da Bahia (atual Bradesco).
O horário diurno de trabalho só permitia estudar em colégios noturnos e, ao concluir os primeiro e segundo graus, ingressou na universidade onde se diplomou em professor, nem bem concluíra o estágio probatório numa escola particular, ali mesmo conheceu a sua futura esposa, também professora, com quem teve três filhos e estes lhes deram três netos.
Quando o barbeiro interrompeu seus pensamentos ao perguntar: “Vais querer fazer a barba, meu velho”?
Aquele velho a receber minguado salário de aposentado, a conviver a mais de 40 anos com a esposa, acredita ter atingindo a felicidade, se é que assim se pode chamar cuidar de netos e uma sogra, mãe idosa de 87 anos, pagar medicamentos caros, igualmente a planos de saúde de crianças e adultos, condomínio, contas de água, luz, telefone e, sobretudo supermercado com defasados rendimentos de aposentados.
- Acorda velho!-O senhor vai lavar os cabelos?
Quer álcool, talco ou loção Glostora?”
Araújo - Professor Aposentado


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