A propósito da caridade implicitamente contida no
mandamento maior, vale abrir um parêntese para lembrar que, numa outra ocasião
em que Jesus foi questionado sobre o assunto, apresentou o mandamento numa
versão diferente: "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos
façam", acrescentando: "pois é nisso que consistem a lei e os
profetas" (Mt. 7:12). Nessa versão, conhecida como a "regra
áurea", está explícito o caráter ativo do mandamento, ou seja, a caridade.
Kardec cita e comenta essa passagem no capítulo 11 do Evangelho segundo o
Espiritismo, 'Amar o próximo como a si mesmo".
Ciente da velha polêmica teológica, em que se
pretendeu usar palavras atribuídas a Paulo para justificar a tese da salvação
pela fé, Kardec transcreveu, no item 6 desse capítulo, o trecho da primeira
carta do apóstolo aos coríntios que reproduzimos no final da seção precedente.
Dá ao tópico o título "Necessidade da caridade, segundo S. Paulo".
Seria uma provocação? Certamente que não, pois provocações e polêmicas eram
incompatíveis com seu equilíbrio, sua serenidade e seu espírito cristão. Foi,
sim, a exposição firme e inequívoca de uma das consequências da análise
espírita da moral e da religião, talvez a consequência de maior importância
para a Humanidade.
Apesar dessa concordância da análise espírita com
parte da interpretação católica da questão da caridade - a saber, a importância
das obras para a salvação - , Kardec exerce a seguir a sua imparcialidade,
criticando a máxima católica de que "Fora da Igreja não há salvação".
Após a refutação enérgica desse princípio, estende a crítica à máxima
associada, "Fora da verdade não há salvação". Ambos os princípios são
mostrados não apenas carecer de fundamentação evangélica e racional, mas também
serem nocivos ao bem da Humanidade, já que induzem ao sectarismo, à
intolerância e ao obscurantismo.
O capítulo é encerrado com uma eloquente comunicação
mediúnica do próprio Paulo, em que o princípio-síntese "Fora da caridade
não há salvação" e o papel do Espiritismo na sua implantação são
comentados com palavras de grande profundidade, que não nos atreveríamos a
resumir aqui. Tome, leitor amigo, seu exemplar de O Evangelho segundo o
Espiritismo agora mesmo, e não adie o privilégio de poder fruir a beleza e
a transcendência de um texto como esse.
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