É do insigne educador Hilário
Ribeiro esta a sentença profundamente sugestiva: "Não basta ter coração, é
preciso ter bom coração." Tal pensamento sugere este outro não menos
filosófico, ainda que menos poético: "Não basta deixar o mal, é preciso
fazer o bem."
Há indivíduos cuja vida, não
oferecendo margem para qualquer censura, não deixa também transparecer o mínimo
vestígio de abnegação, de coragem oude altruísmo.
Tudo, nesses homens, obedece a um
calculo prévio e seguro. Seus atos são medidos a compasso. Suas palavras,
destituídas do mais ligeiro arroubo ou arrebatamento, são serenas como o
arrulhar das rolas. Seus gestos são isócronos como o movimento de um pêndulo.
Agem em tudo e por tudo consoante um programa preestabelecido, e de acordo com
certo interesse vital escondido em seu foro intimo.
Outros ha, que são o reverso da
medalha, isto é, em cuja vida se notam várias lacunas, em cujos
procedimentos há falhas sensíveis, mas, em quem; ao lado desses senões, se
descobrem rasgos sublimes de generosidade, traços indeléveis de coragem,
atitudes de heroísmo que deslumbram, exemplos de bondade que edificam.
Os primeiros são incapazes do mal
como são incapazes do bem. Os segundos são capazes, tanto do mal como do bem.
No entanto, podemos dizer, sem receio de errar, que estes últimos estão
mais perto de Deus e de sua justiça que os primeiros.
A mensagem dirigida à igreja de
Laodicéia pelo anjo revelador do Apocalipse, reza o seguinte: "Sei as tuas
obras; Já vi que não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente; mas
és morno, e, por isso, quero vomitar-te de minha boca."
Há homens que pertencem à igreja de
Laodiceia; não são frios nem quentes, são mornos, a
despeito deste terrível dizer da mensagem: Oxalá! fosses frio ou
quente.
De fato, é mais fácil o homem evolver, sendo
mau com mesclas de bondade, que sendo apático, impassível tanto no mal como
no bem.
O caráter morno ou medíocre dificilmente
se modifica. É cristalizado. Traz as cordas do sentimento frouxas como
aqueles dois clérigos que aparecem na Parábola do Bom Samaritano, passando de largo
pelo viajor espoliado e ferido que jazia a beira da estrada.
O caráter ardente e
apaixonado é capaz de transformações completas e grandes surtos de
progresso. É o que se verifica com o converso de Damasco. Quando
Saulo, era fanático, e, como tal, capaz das maiores iniqüidades. Convertido,
como Paulo, revelou-se um herói na defesa da verdade,
um mártir na propaganda da nova fé que abraçara.
Maria de Magdala
é outro exemplo que vem corroborar nossa asserção. Era mulher
de costumes dissolutos, tida e havida como tal; porém, à semelhança
de Paulo, possuía um coração ardente, cujas fibras, quando
tangidas por quem lhes conhecesse o segredo, vibravam intensamente. Daía
sua transformação súbita e radical, chegando a merecer as francas simpatias
do Salvador do mundo. E o ladrão na cruz? Porque se deu aquela
inopinada mudança? Porque se tratava também de uma alma viva, de um caráter vibrátil, de umcoração
sensível, capaz de se inflamar ao primeiro sopro do Céu.
Destes e que nasce o gênio, tanto nas artes, como na
ciência, como na virtude. O Cristianismo éa fé capaz de
os produzir.
Autor: Vinicius
Fonte: Nas Pegadas do Mestre
Adão Oliveira
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