GENTE:
Os preços de salões de barbeiro e
de beleza estão pra lá de Bagdá - Se voc quizer um corte cinco estrelas,se
prepare para sacar 80 reais num desses salões de shoppings centers. Cabelo e
unhas femininos então nem se fala.
O motivo desse entroit é passar
uma história real ouvida por barbeiro eficiente e bom ouvinte:
E lá estava ele sentado na
cadeira do barbeiro quase a dormitar com o chap, chap da tesoura a trabalhar
(aparar) os seus já escassos cabelos prateados. Aos 69 anos, em rápidos
lampejos passou a relembrar a sua vida de menino pobre oriundo do interior do
Estado para morar em casa de parentes na Capital, repleta daqueles monstrengos
barulhentos e "perigosos", chamados bondes. Foram anos e mais anos de
trabalho duro para chegar aonde chegou, com família constituída, filhos
criados, formados, empregados, e netos ainda a chegarem.
O APRENDIZADO
Aos oito anos além de frequentar
pela manhã a escola primária daquele bairro do Centro Histórico de Salvador; à
tarde era aprendiz de sapateiro, diariamente a subir e a descer a ladeira do
Taboão a comprar sola, saltos, cola e tudo o quanto era aviamentos para a sua
nova escola (humilde sapataria, oficina de consertos de sapatos) localizada num
beco escuro de uma velha casa da Praça da Quitandinha do Capim.
Atividade lhe imposta para não
deixá-lo ficar atoa, a para quedar (pongar) em bondes e ficar a jogar ferrinho
com a molecada no largo de Santo Antônio, (segundo a tia dele, dona Maria
Sodré, dona de um pensionato na casa de no. 169 da Rua Direita de Santo
Antônio, onde morava de favor,): Jogo no qual se perdia a noção do tempo
tendo-se que cercar o triangulo riscado no chão do opositor, impedindo-o de dali
sair.
Opção: Coloca-lo com aprendiz de sapateiro com
o velho Silvério, que, ao lado de um experimentado auxiliar tocava o serviço
advindo dos moradores das redondezas; geralmente moradores da Rua dos Carvões,
Direita de Santo Antônio, Rua dos Ossos, São José de Cima e São José de Baixo;
com fregueses até do bairro da Liberdade e da Lapinha.
Já rapazinho, numa dessas andanças pelo então
movimentado comércio da ladeira do Taboão recebeu convite para trabalhar como
espécie de vendedor de porta de loja de tecidos, com o compromisso de,
diariamente ir buscar a marmita do almoço dos donos, um casal libanês.
A FOME
Para defender o almoço e alguns
trocados, ali permaneceu até obter um emprego de office-boy Comércio, em uma
companhia americana, a Dun & Bradstreet, de informações cadastrais, onde,
de limpador do escritório passou a funcionário de carteira e, como exímio
datilógrafo passa a seguir a trabalhar em bancos locais, como Correia Ribeiro,
Nacional de Minas, Banorte e Banco da Bahia (atual Bradesco).
O horário diurno de trabalho só
permitia estudar em colégios noturnos e, ao concluir os primeiro e segundo
graus, ingressou na universidade onde se diplomou em professor, nem bem concluíra
o estágio probatório numa escola particular, ali mesmo conheceu a sua futura
esposa, também professora, com quem teve três filhos e estes lhes deram três
netos.
Quando o barbeiro interrompeu
seus pensamentos ao perguntar: “Vais querer fazer a barba, meu velho”?
Aquele velho a receber minguado
salário de aposentado, a conviver a mais de 40 anos com a esposa, acredita ter
atingindo a felicidade, se é que assim se pode chamar cuidar de netos e uma sogra,
mãe idosa de 87 anos, pagar medicamentos caros, igualmente a planos de saúde de
crianças e adultos, condomínio, contas de água, luz, telefone e, sobretudo
supermercado com defasados rendimentos de aposentados.
- Acorda velho!-O senhor vai
lavar os cabelos?
Quer álcool, talco ou loção
Glostora?”
Araújo - Professor Aposentado
Nenhum comentário:
Postar um comentário